O ator como mediador do teatro pedagógico


por Mariane Oliveira

Durante os últimos anos estive inserida em instituições e vi que a contação de histórias  para crianças  e jovens despertava um grande prazer e entusiasmo. A narrativa exerce uma importante função no desenvolvimento infantil e juvenil. Como amante das artes, resolvi experimentar com os alunos a dramatização como meio de contação de histórias, onde o texto literário se unia com a interpretação teatral.

O teatro pode ser um ótimo instrumento pedagógico, se bem utilizado. Ele e a pedagogia podem fazer uma aliança transformadora, visando a exploração da realidade.

Entre histórias de ‘’A Bela adormecida’’ e ‘’Os três porquinhos’’, foram surgindo narrativas pessoais, onde o narrador era o protagonista e se via em situações opressoras, que lhe angustiavam e lhe despertavam o desejo de mudança.

Buscando ocultar sua própria história, muitas vezes os alunos queriam representar histórias alheias, que pouco os acrescentaria, deixando de se autoconhecerem, conhecerem ao mundo e aos outros, se fechando em um universo a qual não pertenciam e queriam se sentir pertencentes através da representação do seu irreal.

Diante dessas situações me lembrei de uma frase de Augusto Boal onde ele dizia: ‘’O cidadão não é aquele que vive em sociedade, mas a transforma’’. Então eu pensei: Qual o papel do ator diante dos conflitos existentes na sociedade? Dá para ser ator sem se autoconhecer?

 Começarei a responder pela última pergunta.

Não, não dá para ser ator sem se conhecer. Não dá para atuar para si mesmo, camuflando sua realidade, fingindo não pertencer a ela, ignorando a hierarquia que há entre aqueles que detêm o poder (Opressores) e aqueles que dão poder á quem os tem(Oprimidos). Não dá para ser ator deixando que a plateia ignore aquilo que está se passando no palco, que ao acabar o espetáculo este público vá para casa e continue  vivendo uma vida medíocre sem qualquer impacto e transformação.

Estamos em um momento histórico e político em que é impossível ficarmos inertes as manifestações e protestos que ocorreram e surgem a cada dia.

É necessário que o ator se coloque na sociedade e deixe de apenas entreter ao povo, dizendo coisas engraçadas onde a inteligência de uma massa é ignorada.

É nesse sentido que o teatro pedagógico se coloca, tendo como principal objetivo a transformação da realidade a qual estamos inseridos. Deixando a bruxa e o sapo para depois, dando voz aos eternos conflitos de classe, gênero e cor presentes no mundo.

 Após ler o texto da minha colega de pesquisa Eduarda Caroline, tive um  insight sobre a responsabilidade social que o cidadão carrega, incluindo o artista. Quando digo cidadão ,vou além da definição do dicionário, colocando em suas costas a sua responsabilidade com direitos civis e políticos de seu Estado.

''Todos temos responsabilidades e escolhas no âmbito social, e praticar Teatro do Oprimido pode ser uma delas. A arte é poderosa na educação, na cultura, na nossa relação com outros seres humanos. Podemos utilizar o teatro como forma de autoexpressão, autoafirmação e entretenimento.'' -    Eduarda Caroline
                                                           
Só poderemos transformar a realidade na qual estamos inseridos se nos transformarmos. Nos conscientizarmos que através da arte, poderemos pintar uma nova cor na nossa bandeira e darmos uma nova identidade ao nosso país.

Mariane Oliveira cursa o terceiro período de Artes Cênicas e, no PET, faz uma pesquisa sobre o Teatro do Oprimido, orientada pela professora Alessandra Vanucci.

Obras de referência:
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores, 14ª edição, Civilização Brasileira- Rio de Janeiro 2011.
Literatura Infantil/[organizada pela] Universidade Luterana do Brasil-Curitiba: Editora Ibpex, 2009.