Potência de Fênix
por Marcelo Moraes Caetano
O palito de fósforo contém
o fogo estacionário dos incêndios;
com o vento, em seu harém,
amansa-os, empresta-lhes, reacende-os.
O poema e a ferrugem
não são nem bem, nem mal.
Não penetram sem que se sujem
no nauta, no pavio, no mar, na cal.
Um verso que se domina
pode-se ver do erro
da régua da indisciplina
do carvão da neve do ferro.
O fato mais comezinho
é que poesia dorme:
cedo acorda e vai passarinho,
águia, embora (ou) conforme.
Escrever é falar sem manto,
começo no ponto final?
Segue-se, apesar do entretanto,
mirando-se, estátua de sal.
Escreve-se porque não se escuta
a fala, tão pouco loquaz.
Tampouco se espera que a luta
acabe. E acaba-se em paz.
Acento, o silêncio e seu ensaio,
fogo se desfia;
Pássaro adentro. Pensai-o
Poesia.
"Potência de Fênix", de Marcelo Moraes Caetano foi o texto vencedor da categoria Poesia no II Prêmio Paulo Britto de Prosa e Poesia.